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Recife, Pernambuco, Brazil
O Blog Educar com Cordel é editado pelo poeta e escritor Paulo Moura, Professor de História e Poeta CORDELISTA. Desenvolve o projeto EDUCAR COM CORDEL que visa levar poesia e literatura de cordel para as salas de aula, ensinando como surgiu a Literatura de Cordel, suas origens, seus estilos, suas heranças. O Projeto Educar com Cordel é detentor do Prêmio Patativa do Assaré de Literatura de Cordel do MINC (Ministério da Cultura).

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

RIMAS e VERSOS

Verso metrificado - Obedece a um esquema métrico e compassado (veja como escrever um soneto). Sua origem remonta às primeiras poesias. Um ritmo ou "batida" constante em cada verso de um poema caracteriza o uso do verso metrificado. O contrário é o verso livre, que não possui um esquema métrico regular, estando mais associado ao modernismo.

Versos brancos - Versos sem rima entre si.

Rima rica - São chamadas ricas as rimas que se fazem com palavras de classe gramatical diferente ou de terminação pouco freqüente. "Vê-la" produz com "estrela" uma rima rica.

Rima pobre - O uso acentuado de palavras da mesma classe gramatical ou com a mesma terminação numa composição torna a rima pobre.

Este texto foi extraido do site:

http://www.sonetos.com.br

Um sitio de referência para os amantes da poesia!

MEU QUARTO BAÚ DE RIMAS - Por Paulo Moura

Recebi, hoje à noitinha
Numa surpresa da peste
Um livrinho azul celeste
Que só coisa boa tinha
Com versos lá da "terrinha"
Onde brota o marmeleiro
Onde à sombra do umbuzeiro
O vate escreve obras primas
"Meu quarto baú de rimas"
Do mestre Dedé Monteiro!

Meu filho falou contente:
- Papai, trouxe pro senhor!
Leia logo, por favor,
O que lhe dou de presente!
Abri o livro contente
Que nem pôico no lameiro
Confesso, já li inteiro
Os sonetos de auto estimas
"Meu quarto baú de rimas"
Do mestre Dedé Monteiro!

Obrigado Mestre Dedé...
Por esse grande presente!

Minha droga é a Poesia - Vinicius Gregório


Poesia é bom demais!
Poesia é o meu conceito.
Pra mim o mal só tem jeito
Quando o real se desfaz
E, num “lapidar”, se faz
Um majestoso repente,
Que encanta qualquer vivente
Dotado de sentimento.
É na Poesia o momento
Que a dor não se faz presente.

É como se a Poesia
Fosse a minha Nicotina,
Meu Ópio, minha Heroína,
Meu Êxtase em demasia...
Ela é quem me fantasia
E quem traça meus traçados.
Através dos meus rimados
Me liberto desse mundo
Pra cair num mar profundo
De Lindos Sonhos Dourados.

Sou viciado em Poesia,
Disso eu tenho consciência.
Chega a dar abstinência
Se ela me falta algum dia...
Pra voltar minha alegria,
Basta eu tomar outra “dose”.
Venha comigo, se entrose!
Prove da minha “Heroína”!
Pois, dessa “droga” divina,
Quero morrer de overdose.

Quem prova minha “bebida”,
Sente o gosto do Sertão
E escuta o som do trovão
Mesmo em terra ressequida.
Venha que eu te dou guarida!
Vamos viajar sem prumo,
Sem conseqüência, sem rumo...
Sem medo de ter cirrose.
Te encosta, toma outra “dose”
Dessa droga que eu consumo.

Mas se tu achas nocivo
Esse vício que me enlaça,
Então fuja da fumaça
Que o efeito é corrosivo.
Feito um fumante passivo,
Vais ter um vício profundo.
E, nesse mesmo segundo,
Se queres uma “tragada”,
Podes “tragar”, camarada,
Tem verso pra todo mundo!

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O CORDEL COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO (por: Paulo Moura)




O cordel e a poesia popular de um modo geral, serviram, num tempo onde a deficiência de comunicação e a alta taxa de analfabetismo no nordeste eram, talvez, as maiores no Brasil. Isso explica, por exemplo, o porque deste veiculo informativo e cultural ter dacaido tanto nas ultimas décadas com o advento da TV, do telefone, do computador (com a internet) e, num outro parâmetro, das aberturas e ampliação das estradas, facilitando a circulação de informação e opiniões, trazendo, enfim, um naco de progresso para um povo outrora (ou ainda, vá lá!) esquecido. De um modo geral a evolução fez o cordel decair naquele ambiente e naquelas décadas porque as novidades do mundo moderno sufocaram-no.
E eis que, literatura de cordel virou coisa antiquada. Hoje ela parece renascer a cada momento por causa da insistência de poetas, escritores, pesquisadores, etc. Que insistem em mostrar sua importância. E, notem, que a literatura de cordel é uma herança cultural tão rica que até no exterior a mesma ja foi fruto de pesquisa e ainda hoje é estudada (a exemplo da fundação Raimond Cantel, na França).

SERTANEJO: UM POETA EM POTENCIAL

Como haviamos mencionado anteriormente, o nordestino e o sertanejo em especial, carrega uma herança muito rica de musicalidade e oralidade levando-se em consideração a miscigenação destas três raças que basicamente foram os pilares da formação do povo nordestino: O Negro, O Índio e o Branco.
No Sertão, ainda hoje as pessoas têm esse jeito especial no falar. A musicalidade. Qualquer acontecimento diferente ou que fugisse do convencional era motivo para se divulgar em forma de cantiga.
O homem do campo, dentro de suas limitações e de suas condições de vivência intimamente ligada com a natureza fez-se parte dela. Louva-a a cada acordar. Ama o orvalho. A chuva. O gado com seu mugido triste e poético. As serras cachimbando ao amanhecer. O sertanejo, romantico que é, valoriza cada momento de sua vida sofrida, cantando até mesno seu sofrimento. Quem já nao teve o prazer de desfrutar o belo som de um aboio? Note-se que até a missa do vaqueiro, uma das maiores heranças que vem unir folclore e misticismo no nordeste, é quase toda cantada, a exemplo das missas que eram realizadas em latim, com uma peculiaridade impar: a reza na missa do vaqueiro traz o Senhor Jesus e o Divino para junto do povo. E o povo assim o identifica (Jesus, meu Jesus sertanejo...)

Bicho Homem





Espetáculo poético, cênico e musical com textos em literatura de cordel e músicas de autoria de Allan Sales. Uma abordagem de temática ambiental, dando enfoque ao fato de que a humanidade é parte do contexto planetário e a ação da civilização humana sobre o planeta como vetor de desequilíbrio ambiental e todas as nefastas conseqüências que nossa ação desencadeia no meio ambiente, faz uma provocação ao público, conclamando-a a cada um fazer a sua parte, mudando seus hábitos de consumo.

Inicia com uma pequena exposição, em forma de palestra informal e recital de cerca de 20 minutos, na qual o público é levado a conhecer um pouco das origens históricas da literatura de cordel, com a demonstração feita de improviso de como os poetas populares constroem seus poemas seguindo os cânones estéticos pré-estabelecidos pela tradição cultural.

Allan Sales apresenta Bicho Homem ao lado do cordelista e músico Thiago Martins, das atrizes Raissa Fonseca e Uana Mahin, um espetáculo de quarenta minutos, recheado de músicas cantadas e temas musicais de violão e rabeca que remetem a uma atmosfera cultural de identidade nordestina sobre a qual é construída toda obra aqui apresentada.

UNICORDEL e CORDAS e RETALHOS

O Bloco Carnavalesco Lírico Cordas e Retalhos, que este ano vem às ruas com o tema “Xilogravura, Retalhos e Cordéis”, numa parceria com a Unicordel, abre espaço para a poesia popular nos seus acertos de marcha, que são realizados todos os sábados, a partir das 17 horas, no Teatro Mamulengo, localizado na Praça do Arsenal (Bairro do Recife). Além da orquestra e do coral, regidos pelo Maestro Edson Rodrigues, os encontros contam com a participação de poetas declamadores. No sábado último, houve a apresentação do poeta Ismael Gaião e do folheteiro José Augusto, mais conhecido Lampião. No próximo sábado será a vez dos cordelistas José Honório, Felipe Júnior e Thiago Martins. O acesso é gratuito.
Já no dia 26 de fevereiro, no mesmo local, acontecerá o Cordel em Folia, festa carnavalesca dos cordelistas que, na sua sexta edição, terá diversas atrações, como recital poético, concurso de fantasia, orquestra de frevo e o bloco Cordas e Retalhos.
Divulgue e participe.
José Honório da Silva – Presidente da Unicordel
Júlio Vila Nova – Presidente do Bloco Lírico Cordas e Retalhos

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A ORIGEM DA NOSSA LITERATURA DE CORDEL



A origem da literatura de cordel ou folhetos de feira, está diretamente vinculado às folhas volantes ou folhas soltas, surgidas em Portugal à partir do séc. XVII, cuja venda e divulgação era privilégio de cegos. Na Espanha, este mesmo tipo de literatura era chamado de "Pliegos Sueltos". Denominação que passou tambem à América Latina, ao lado de "hojas" e "corridos" (na Argentina, México, Nicarágua e Perú). Segundo a folclorista Argentina Olga Fernandez, estas "Hojas" ou "Pliegos Sueltos", divulgados através de "corridos", envolvem narrativas tradicionais e fatos circunstanciais, exatamente como a literatura de cordel brasileira. Na França era a "Litterature de colportage" ou literatura ambulante, mais dirigida ao meio rural na forma de "occasionnels" e nas cidades prevalecia os "canard". Na Inglaterra, folhetos semelhante ao nosso eram correntes e denominados "Cocks" ou "Catchpennies" (eram romances e historias imaginarias) e "Broadsides" (estes, folhas volantes sobre fatos historicos, equivalentes ao nossos folhetos de motivações circunstanciais).
Grifo do autor: Analisando, no dia-a-dia, nas feiras, mercados, rodoviarias e/ou os diversos locais onde a literatura de cordel tem seu espaço garantido, podemos concluir que a mesma usa de uma linguagem puramente popular; algo que consiga penetrar na mente do povo sem muita dificuldade. O seu linguajar, seu modo de narrativa, seu falar peculiar, enfim. O cordel atraves dos tempos foi um veiculo de comunicação destinado unicamente às massas. 

O Cordel no Nordeste Brasileiro
A HERANÇA CULTURAL

Na época de sua colonização os Sertões nordestinos,- graças ao seu distanciamento dos grandes centros urbanos e ao total abandono dispensado pelos governos, onde o Coronel proprietário de enormes levas de terras ditava as leis e o modo de vida daquela sociedade, - foram o cenário ideal no qual talhou e fez surgir o homem valente e determinado e, porque não dizer, predestinado a uma história de lutas e inssurreições. Nele, a figura do valentão é peça primordial e atributo necessário à sua sobrevivência. É comum vermos também, como coadjuvante deste tipo nordestino, o fanático religioso que, relegado a tanta fome, sede e abandono resvalou para a aceitação do seu destino com ser predestinado ao sofrimento. Tudo isso graças aos ensinamentos dos primeiros representantes das igrejas que vieram inculcar na mente do nativo sertanejo a força da vingança da justiça divina.
Apesar da herança forte que o homem sertanejo herdou dos seus antepassados, sejam eles índios, negros ou os brancos de além-mar, foi-lhes também deixados a herança cultural da narrativa poética. Nesse espaço, o homem nordestino absorve do colonizador europeu a poesia e a prosa transformado em discurso em meio às multidões onde alí se estaria narrando, a modo de reportagem, algum feito heróico, alguma novidade espetacular, enfim, alguma informação de interesse público. Embora se saiba que, com frequência, estes discursos poéticos eram quase sempre relatando algum feito heróico ou algo espetacular.
No Sertão esta atividade era exercida, na maioria das vezes, pelos cegos cantadores de feira que sempre traziam, não se sabe de onde, as novidades e os feitos de bandos de cangaceiros que empestavam aquela região. 

A CHEGADA DO CORDEL NO NORDESTE

O ano de 1830 é considerado historicamente, o ponto de partida da poesia popular nordestina. Tendo como seus primeiros divulgadores os poetas Ugolino de Sabugi e seu irmão Nicandro, filhos do não menos famoso Agostinho Nunes da Costa Teixeira. Estes, os primeiros cantadores da poesia de pé de parede e dos contos que se faziam acompanhar com o repique da viola, da rabeca, do pandeiro ou até mesmo do ganzá.
Contudo, o movimento editorial do cordel teve início em meados de 1893/1900 e seus maiores divulgadores foram: Leandro Gomes de Barros, de Pombal; Silvino Pirauá, de Patos; Francisco das Chagas Batista, de Teixeira; e João Martins de Ataide, Ingaense.
Nessa época, a literatura de cordel,- que é bom que se acrescente, Poesia, narrativa, popular, impressa – se transformou na coqueluche do nordeste, alcançando quase todos os estados  nordestinos em particular e os de todo o país, de certa forma.

Os Precusores do Cordel
Como fora dito anteriormente, os precursores do Cordel na sua forma de movimento editorial - já  que ele compreende a poesia impressa em forma de folheto - foram Leandro Gomes de Barros, Silvino Pirauá e João Martins de Ataide (isso só para citar os principais).
Os Ciclos do Cordel
Eis abaixo algumas temáticas peculiares à literatura de cordel:
      Romances: histórias de amor não-correspondido, virtudes ou sacrifícios. Alguns títulos: Os Sofrimentos de Eliza ou os Prantos de uma Esposa e O Mal em Paga de Bem.
      Ciclo mágico e maravilhoso: histórias da carochinha, que falam de príncipes, fadas, dragões e reinos encantados. Os mais famosos são O Pavão Misterioso e A Princesa Que Não Torna.
      Ciclos do cangaço e religioso: apresentam o imaginário nordestino ligado a figuras como Lampião, Antônio Silvino, Padre Cícero, Antônio Conselheiro e frei Damião.
      Noticiosos: funcionam como jornais. Mesmo já sabendo o que aconteceu, a população compra o folheto para ler a visão do poeta. As Enchentes no Brasil no Ano Setenta e Quatro e A Criação de Brasília marcaram época.
      Histórias de valentia: apresentam personagens lendários na região, como O Sertanejo Antônio Cobra Choca e O Valente Sebastião.
      Anti-heróis: falam de nordestinos que vencem mais pela esperteza do que pela força. João Grilo e Pedro Malazartes foram imortalizados pelo cordel.
      Humorísticos e picarescos: os mais populares. Contam fatos como A Dor de Barriga de um Noivo e A Mulher Que Trocou o Marido por uma TV em Cores.
      Exemplos morais: deixam uma lição. A Moça Que Bateu na Mãe e Virou Cachorra e A Mãe Que Xingou a Filha no Ventre e Ela Nasceu com Rabo e Chifre em São Paulo são títulos de destaque.
      Pelejas: relatos de cantorias entre repentistas. Os textos são frutos da imaginação do cordelista, como A Peleja de João de Athayde com Raimundo Pelado.
      Folhetos de discussão: apresentam dois pontos de vista sobre uma mesma questão. A Discussão de São Jorge com os Americanos na Lua ou A Discussão de um Fiscal de Feira com uma Fateira são exemplos.
      Outros gêneros: há ainda folhetos de conselhos, profecias, cachorradas, descaração, política, educação e aqueles feitos sob encomenda.

UM TEXTO DE IGOR PANTUZZA WILDMANN

Este artigo belíssimo foi extraido do site www.luizberto.com

EU ACUSO !

(Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes)

«Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice. (Émile Zola) 

Meu dever é falar, não quero ser cúmplice. (…) (Émile Zola) 

Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que… estudar!). 

A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro. 

O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares. 

Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de  convivência supostamente democrática. 

No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando… 

E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.” 

Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno–cliente… 

Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.  

Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar. 

Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca: 

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;
EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;
EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;
EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;
EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;
EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;
EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;
EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;
EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;
EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e  do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;
EU ACUSO os  “cabeça–boa” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito,
EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;
EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.
EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;
EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;
Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia. 

Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”. 

A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.” 

Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.