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Recife, Pernambuco, Brazil
O Blog Educar com Cordel é editado pelo poeta e escritor Paulo Moura, Professor de História e Poeta CORDELISTA. Desenvolve o projeto EDUCAR COM CORDEL que visa levar poesia e literatura de cordel para as salas de aula, ensinando como surgiu a Literatura de Cordel, suas origens, seus estilos, suas heranças. O Projeto Educar com Cordel é detentor do Prêmio Patativa do Assaré de Literatura de Cordel do MINC (Ministério da Cultura).

sábado, 31 de outubro de 2009


Estou postando abaixo um artigo que escrevi a alguns meses. Como ele está e é atualissimo resolvi colocá-lo neste Blog para os que ainda não o leram terem tal oportunidade. Abraços a todos! (Paulo Moura)

EDUCAÇÃO VEM DE BERÇO

Acordei hoje pela manhã com uma frasezinha matutando na minha cabeça. A frase é: EDUCAÇÃO VEM DE BERÇO...
Eu explico:
Sou licenciado em história e tenho bacharelado em Relações Públicas. Atualmente estou ministrando oficina de Literatura de Cordel junto com o parceiro de poesia Edgar Diniz.
Minha vida não foi lá muito sofrida não. Por isso não gosto nem nunca gostei de me lamentar ou reclamar da vida.
Fui filho de taxista e sempre estudei em escola do governo, pois, no meu tempo, estudar em escola particular era coisa pra gente rica. E mais, escolas do Governo tinha um ensino que beirava a excelência.
Quando jovem, nunca tive muitas posses e sempre trabalhei para ter o que queria, desde uma bicicleta usada até uma roupa melhorzinha.
Quando fiz meu curso profissionalizante de desenho técnico publicitário cansei de ir do bairro da Encruzilhada até o Vasco da Gama, a pé, pois não tinha dinheiro para a passagem (embora eu dissesse a meu falecido pai que o tinha, para que ele não gastasse ainda mais comigo).
Mas o que mais me deixa satisfeito hoje em dia é lembrar que, apesar de todos esses problemas e privações, eu era (e sou) muito feliz! Nunca tive revolta alguma por não ter algo que não tinha condições de ter.
Nunca me revoltei por ver meninos ricos andando em carros caros. Sempre me senti feliz e realizado na minha trajetória de vida, pois, uma das coisa mais importantes, e que muita gente rica não tinha, eu possuía. Uma família unida e amorosa.
Meu pai era uma cabra bruto feito a peste. Matuto do interior de Lagoa de Itaenga, sabia ler e escrevia muito bem, mas o destino o jogou de presente a responsabilidade de criar uma família, e ele virou taxista. Quando o taxi ia pro conserto, eu, meus dois irmãos e meus pais passávamos privações.
A comida era pouca, mas não faltava.
Meu pai era um homem muito bom. Amava os filhos que tinha. Mas o alcoolismo o levou de nós quando eu tinha apenas 17 anos e ele, pouco mais de 40.
Mas, me perguntem: o que é que isso tem a ver com a frase “educação vem de berço”?
Explico:
A maioria das escolas em que estamos dando oficinas de Literatura de Cordel, são da rede municipal e estadual. As crianças são, em quase sua totalidade, arrogantes e agressivas (é como se isso hoje fosse condição de sobrevivência dentro do meio a que pertencem). A maioria não sabe ler direito, mesmo estando numa série bem avançada. A instalações das escolas são precárias e retratam o abandono. A maioria das escolas que conheci não tem policiamento e existe histórico de tráfico de entorpecentes.
Os professores não tem domínio algum para com o alunado. Quando muito, o professor sendo um cara “legal” ganha a simpatia da turma.
Deu pra sentir em muitas escolas o desinteresse dos mestres para com o ensino, pois, além de ganharem um salário “vergonhoso” são forçados pelo sistema de ensino a aprovar alunos que mal sabem ler.
Num universo de ensino precário e falta de compromisso dos órgãos de educação pública, qualquer mortal que ganhe míseros R$ 460,00 de salário mínimo vai colocar seu filho numa escolinha “particular” que cobre uns R$ 50,00. Pois, atualmente, qualquer escolinha particular é melhor do que muita escola pública (com raríssimas exceções, é claro!).
Então, o que resta de público para a escola pública?
Nessas escolas, existem muitos jovens valiosíssimos. Grandes talentos. Gente de um interesse e de uma inteligencia sensacional. Essa talvez, seja a parte boa da estória.
Mas o que dói é ver esses alunos maravilhosos se misturarem, mesmo a contragosto, com uma leva de malfeitores, perturbadores, e gente que não está nem ai pra aprender.
Daí eu me pergunto: Eles tem culpa de serem assim?
Não, respondo de imediato.
A culpa é da falta de assistência que os órgãos públicos dispensam a esses jovens.
É da criação errada que os pais lhes deram (às vezes por também não terem tido uma boa educação).
A culpa é da falta de alguém em suas vidas que lhes ensinem que não se deve desrespeitar um adulto. Que não se deve tratar mal um colega. Que não se deve lanchar e jogar o prato e a colher numa vala de esgoto (assisti estarrecido cenas como essa numa escola). Que o rapaz deve dar a vez às meninas na hora de sair ou entrar numa fila. Que é proibido chamar palavrão dentro da sala de aula, etc.
Mas, como cobrar isso da maioria dos jovens se eles possivelmente não tiveram esse tipo de aprendizado dentro de casa?
Não se pode cobrar dos professores que eles ensinem boas maneiras aos jovens. Não se pode cobrar desses jovens que ajam educadamente, pois ninguém nasce sabendo. Isso tem que ser aprendido em casa, no convívio familiar.
Mas como será o convívio familiar de uma família que mora num barraco de madeira onde a mãe é alcoólatra, o pai é viciado, ambos estão desempregados e fazem bicos catando latas na rua para alimentar 5 ou 6 crianças que se acomodam num espaço reduzido de 2 metros quadrados?
Educação? Vem de berço...
(Paulo Moura - POeta cordelista, escritor e professor)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A Literatura de Cordel


O Cordel no Nordeste Brasileiro
A HERANÇA CULTURAL

Na época de sua colonização os Sertões nordestinos,- graças ao seu distanciamento dos grandes centros urbanos e ao total abandono dispensado pelos governos, onde o Coronel proprietário de enormes levas de terras ditava as leis e o modo de vida daquela sociedade, - foram o cenário ideal no qual talhou e fez surgir o homem valente e determinado e, porque não dizer, predestinado a uma história de lutas e inssurreições. Nele, a figura do valentão é peça primordial e atributo necessário à sua sobrevivência. É comum vermos também, como coadjuvante deste tipo nordestino, o fanático religioso que, relegado a tanta fome, sede e abandono resvalou para a aceitação do seu destino com ser predestinado ao sofrimento. Tudo isso graças aos ensinamentos dos primeiros representantes das igrejas que vieram inculcar na mente do nativo sertanejo a força da vingança da justiça divina.
Apesar da herança forte que o homem sertanejo herdou dos seus antepassados, sejam eles índios, negros ou os brancos de além-mar, foi-lhes também deixados a herança cultural da narrativa poética. Nesse espaço, o homem nordestino absorve do colonizador europeu a poesia e a prosa transformado em discurso em meio às multidões onde alí se estaria narrando, a modo de reportagem, algum feito heróico, alguma novidade espetacular, enfim, alguma informação de interesse público. Embora se saiba que, com frequência, estes discursos poéticos eram quase sempre relatando algum feito heróico ou algo espetacular.
No Sertão esta atividade era exercida, na maioria das vezes, pelos cegos cantadores de feira que sempre traziam, não se sabe de onde, as novidades e os feitos de bandos de cangaceiros que empestavam aquela região.

A CHEGADA DO CORDEL NO NORDESTE

O ano de 1830 é considerado historicamente, o ponto de partida da poesia popular nordestina. Tendo como seus primeiros divulgadores os poetas Ugolino de Sabugi e seu irmão Nicandro, filhos do não menos famoso Agostinho Nunes da Costa Teixeira. Estes, os primeiros cantadores da poesia de pé de parede e dos contos que se faziam acompanhar com o repique da viola, da rabeca, do pandeiro ou até mesmo do ganzá.
Contudo, o movimento editorial do cordel teve início em meados de 1893/1900 e seus maiores divulgadores foram: Leandro Gomes de Barros, de Pombal; Silvino Pirauá, de Patos; Francisco das Chagas Batista, de Teixeira; e João Martins de Ataide, Ingaense.
Nessa época, a literatura de cordel,- que é bom que se acrescente, Poesia, narrativa, popular, impressa – se transformou na coqueluche do nordeste, alcançando quase todos os estados nordestinos em particular e os de todo o país, de certa forma.